Luanda - Nos últimos anos temos assistido a um franco crescimento do dinheiro móvel em Angola, crescimento que traz consigo um grande potencial transformador. Neste artigo gostaria de enquadrar o advento do dinheiro móvel como fator de inclusão financeira, combate à economia informal e promoção da literacia financeira.
Fonte: Club-k.net
A economia Angolana em geral e o setor financeiro em particular sofrem com dois problemas que urge resolver, nomeadamente a (i)literacia financeira e a inclusão financeira. De facto, o fenómeno de iliteracia financeira é um fenómeno global, na medida em que as famílias são confrontadas com decisões financeiras cada vez mais complexas sem que para tal estejam preparadas. Por seu turno, percebemos os baixos níveis de inclusão financeira da população angolana, cientes de que uma franja grande da população não tem uma conta bancária, o que acaba promovendo a economia paralela, a fraude e a evasão fiscal, enquanto retira o dinheiro do setor financeiro, seja sob a forma de poupança ou de investimento, fundamentais para o nosso desenvolvimento. Os dois em conjunto, impedem as famílias angolanas de melhorar a sua qualidade de vida, mantendo-se viva uma espiral negativa que teima em desaparecer.
Neste cenário, têm surgido novos operadores que, juntamente com os incumbentes, potenciam o crescimento exponencial do dinheiro móvel, permitindo às famílias realizar transações financeiras com segurança e comodidade. São exemplos o serviço Afrimoney criado em Abril de 2023, a Akipaga, plataforma da Kwattel, a Unitel Money ou mesmo o serviço internacional Paypal, que permite ainda o pagamento em lojas, transferências internacionais e o acesso a outros serviços financeiros de valor acrescentado.
A importância destas plataformas tem levado o BNA a conceder novas licenças o que, juntamente com o investimento esperado em infraestruturas, nos faz estar muito otimistas quanto ao futuro. Na realidade, o aumento da concorrência tem sempre o condão de impulsionar não só a maior adoção como a criação de novos e melhores serviços para os consumidores.
A inovação esperada e a cada vez maior adoção destas soluções traz consigo riscos que podem ser mitigados pelo desenvolvimento de programas de literacia financeira – como forma de promoção de conhecimentos básicos de gestão do orçamento familiar, da criação de hábitos de poupança ou mesmo de competências de empreendedorismo – e de literacia digital – de modo a evitar fraudes e outras burlas.
O referido investimento em formação da população pode passar por um maior envolvimento do setor financeiro e segurador, que poderá vislumbrar vantagens em agregar esta ferramenta a uma conta bancária, democratizando assim soluções de poupança ou de investimento, enquanto bancariza a população.
Acreditamos que o desenvolvimento económico em Angola tem de passar por uma maior adoção de serviços bancários por parte dos vários agentes económicos. A digitalização das transações comerciais permitirá rastrear pagamentos, combatendo a economia informal e reduzindo custos de contexto (por exemplo, o transporte de dinheiro com os riscos associados), sendo ao mesmo tempo criador de valor para o cliente, nomeadamente sob a forma de rentabilização das suas poupanças.O dinheiro móvel pode ser a solução de curto prazo, mas devemos reforçar as parcerias com o setor financeiro para levar à bancarização das famílias, o que tem de passar por mais literacia financeira e literacia digital e um incentivo evidente à adoção destes novos mecanismos.