Luanda — Os trabalhadores da Empresa Nacional de Correios e Telégrafos de Angola (ENCTA) tornaram pública uma denúncia contundente contra a actual administração da empresa, liderada por Verónica Costa (administradora) e Vanuza Silva (directora financeira). Em duas cartas abertas dirigidas ao Ministro das Telecomunicações, Tecnologias de Informação e Comunicação Social e às instituições competentes da República de Angola, os funcionários relatam um cenário de má gestão, favorecimentos familiares, salários congelados e condições de trabalho degradantes.
Fonte: Club-k.net
Segundo os trabalhadores, o Estado garante mensalmente 200 milhões de kwanzas para o fundo salarial da ENCTA. No entanto, esse valor não tem sido distribuído de forma equitativa. Há relatos de atrasos injustificados, discriminação no pagamento e falta de transparência na gestão dos recursos. Os salários estão congelados desde 2013, o que representa doze anos sem qualquer actualização, apesar da inflação e do aumento do custo de vida.
Enquanto os trabalhadores enfrentam dificuldades para sustentar as suas famílias, a administração é acusada de gastar valores exorbitantes em obras e serviços internos, como 200 milhões de kwanzas na manutenção de ar-condicionado e 23 milhões para erguer uma parede, além de viagens frequentes e subsídios elevados para os gestores.
As cartas denunciam ainda a colocação de familiares em cargos de chefia, sem mérito ou experiência. Entre os casos citados estão Ricardo, sobrinho de Vanuza Silva, nomeado chefe de departamento sem formação em contabilidade, e Érica, também sobrinha da directora financeira, formada em farmácia, mas colocada em funções administrativas. A prática tem gerado desmotivação e abandono por parte de funcionários experientes.
A secretária Adriana, apontada como “mensageira” entre as líderes da administração, é citada como exemplo de diferença salarial injustificada, recebendo vencimentos privilegiados enquanto a maioria dos trabalhadores permanece em situação precária.
Nas estações dos Correios, os trabalhadores enfrentam falta de materiais básicos, como papel, canetas, água potável e produtos de higiene. Muitos são obrigados a recorrer a espaços improvisados, como o Kibabo, para satisfazer necessidades básicas, o que é descrito como uma humilhação institucional.
Além disso, o ambiente laboral é descrito como opressivo e marcado pelo medo, com relatos de desprezo e intimidação por parte da administradora financeira. Os trabalhadores afirmam que são tratados como “peças descartáveis” e não como profissionais que sustentam a empresa com esforço e dedicação.
Exigências e apelo ao Governo
Os trabalhadores exigem:
A exoneração imediata de Verónica Costa e Vanuza Silva
A realização de uma auditoria independente sobre os contratos e obras realizadas
A actualização dos salários, conforme previsto na lei
A garantia de respeito e condições dignas de trabalho
A reconstrução da ENCTA com base na transparência e no compromisso com os seus funcionários“Os Correios de Angola não pertencem a um conselho de administração passageiro. Pertencem ao povo. Pertencem aos angolanos que recebem suas encomendas com esperança”, afirmam os trabalhadores em carta aberta.
A denúncia pública representa um grito de socorro de quem carrega a história da mais antiga operadora postal do país. Os trabalhadores apelam à intervenção urgente do Governo para salvar a ENCTA da destruição institucional provocada pela má gestão.